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Algumas Poesias - Parte 1


UTOPIA

Meus versos
Desnudam-me
Expõe dor
E orgasmos...

Olhos que surgem
Bocas que vão.
Água salgada
Areia
Mãos dadas
Amor...

E me sinto nu...

Nada sou!
Nada mais
Que sonhos...

Estou nu
Vestido de utopia.
Não ria de mim...

Se você ainda não me entende,
Desista!
Você nunca conseguirá...




LIMÃO

Sou azedo
Irrito sua língua
Incomodo seu paladar...

Sou aborrecedor,
Mas posso virar um suco,
Uma limonada,
Só depende do açúcar
Que você adicionar...

Mas você me prefere amargo
Porque te incomoda
E você pode me criticar...

Adicione pinga
Ou um pouco de vodka,
E te embriago,
Te entonteço,
Te levo ao irracional...

Sou limão,
Sou azedo,
Mas foi você quem me fez assim...

Você pode me transformar
Mas será que você quer?

Contudo,
Não se esqueça
Que também sou tempero
E você precisa de mim
Para dar mais sabor
À sua vida...




O LOUCO

Ele ri
Gargalha
Chama a atenção
A praça está cheia...

Ele ri
Afinal, enganou todo mundo:
Falou que era louco
E todo mundo acreditou...

Ele não é louco
Apenas brinca que é.
E todos concordam
Mesmo sabendo que ele não é
O que parece ser:
Um louco...

E ri
Gargalha
Agora está sentado no chão da praça.
Deita.
E ri...

Todos olham
Mas ninguém faz nada
Porque ele é maluco
Um louco varrido...

E é por isso que ele ri
Porque ele não é
Apenas está fingindo
E todos acreditam...

Só pára de rir
Quando percebe que está todo mundo em volta
Olhando para ele
Como se ele fosse um louco...

E ele não é
Apenas está fingindo...

Por isso ele parou de rir
E foi embora
Como uma pessoa normal:
Sério e triste...


TRAPEZISTA

Solte suas mãos,
Confia em mim,
Pule,
Eu te seguro...

Pega em minhas mãos
Segure forte
E deixe que eu leve
Ao meu trapézio
Ao meu mundo
À minha vida...

Venha comigo,
Não tenha medo...

Mas parece que você não quer,
Nunca solta seu trapézio...

O que você teme?
Eu?
Meu jeito de ser?

Sim, sou um trapezista,
Essa é a minha vida,
Tornei-me assim...

Vivo de um lado para o outro
Me seguro até quando posso,
Depois, solto,
E caio...

Subo a escada novamente
E recomeço...

Mas, quem sabe,
Se você me ajudar,
Eu seguro em suas mãos
E você segura as minhas...

Juntos, ficaremos mais fortes...

Poderemos até
Largar o trapézio
E nos tornaremos domadores,
Ou malabaristas,
Ou apenas palhaços...

Venha,
Confia em mim,
Solte suas mãos,
E caia
Nos meus braços...


SEGUINDO O SOL

Entro no carro
Passo o cinto de segurança
O tanque está cheio
Tudo normal
Começo a viagem...

Daqui a alguns minutos
A rotina recomeça
Meu trabalho burocrático
De cada dia...

Na estrada
Vejo o Sol brilhando lá na frente
E começo a viajar
Pra dentro de mim...

Resolvo seguir o Sol
E ser livre
Fazer valer a minha vontade
Como sempre desejei...

Fujo do meu roteiro.
Meu destino agora
É ir onde o Sol me levar...

Não desobedeço as regras
Respeito os limites de velocidade
Placas, semáforos,
Como tem de ser...

A velocidade constante
A estrada, com suas nuances,
Curvas e retas
E o Sol
Sempre à frente...

São SPs, BRs, RJs,
Estradas que se unem
E me afastam
Da realidade...

As horas passam
O Sol cada vez mais elevado
E só paro para abastecer
Quando necessário...

É quase meio-dia,
Fico confuso,
O Sol está no alto
As estradas não...

Para onde devo ir?

Paro,
Espero,
Aproveito para almoçar
A marmita que levava pro trabalho...

O Sol começa a descer
Agora posso continuar
A minha trajetória
Rumo ao Sol...

Vou encontrar meu pote de ouro
A cidade perdida
A mais nova Maravilha do Mundo...

As horas passam
Meus olhos fixos no Sol
Não olham o caminho
Não uso mapas
O Sol me guia...

Nem percebo que o Sol se esconde,
Diminuo a velocidade
E chego, finalmente,
A lugar nenhum...

Estou de volta
Ao ponto de partida
Ao portão de minha casa
Ao início...

Coloco as mãos na cabeça
E, no meu desespero,
Percebo que andei o dia todo
E nem soube para onde ia...

Não vi o Cristo Redentor
No Rio de Janeiro
Porque não estava na linha do Sol...

Não vi a Catedral de Aparecida
Ao lado da estrada
Com todo seu movimento
Humano e sobrenatural...
Não vi os rios,
Os montes, cascatas...
Não vi pessoas,
Sorrisos e lágrimas...

Agora percebo
Que todas as viagens
Que fazemos
Não importa o fim...

O que importa é a viagem...

Abra a porta
Desça do carro
Ponha os pés no chão...

Sinta a vida
Pois a verdadeira viagem
Ainda é viver...


SE...

Se minha poesia tivesse som
Você estaria ouvindo jazz
O sax de John Coltrane
Talvez...

Se minha poesia tivesse cheiro
Você sentiria meu incenso
Kama Sutra
Homem...

Se minha poesia tivesse movimento
Sentiria o vai e vem das ondas
Como um barco
No mar calmo...

Se minha poesia tivesse um portal
Você sentiria meu beijo
Minhas mãos em seus cabelos
Um roçar de lábios em seu pescoço
Um sussurro...

Se minha poesia fosse um espelho
Você se veria
Com essa cara de boba
Apaixonada...




DEUS ET

São tantas estrelas
Uma escuridão imensa
Entrei na Via Láctea
O Sol brilha...

Não conheço essa área do espaço
Que lugar bonito
Tantos planetas
Um mais belo que o outro...

Minha nave é rápida
Visito a todos
Rapidamente
E escolho o terceiro, o azul,
Para conhecer mais de perto...

Não sabia que existia vida
Neste planeta...

Estaciono
Ainda visível
Tantos me olham...

Mudo de dimensão
Fico invisível
E me misturo com os humanos...

Gostei da água
Das árvores
Do vento que as balança...

Gostei das pessoas
Falam entre si
Usam a boca
Diferente de mim
Telepata...
Por engano
Fico visível por instantes
E me vêem
E sumo novamente
Mas já chamei atenção...

Chamam-me de Deus
Espírito, alma,
E clamam por minha presença
Mas não quero contatos
Não estou aqui para mudar
Nem a ordem
Muito menos o caos...

Entro na nave
E volto
Para o espaço
Para o céu...



ANIMAIS

Lábios,
Semi-abertos.
Línguas,
Curiosas...

Como animais,
Abraçados, jogados.
Mordidas, carinhos, gritos,
Encaixes e procuras,
Idas e vindas,
Encontros...

Segredos e aventuras.
A selva, o quarto,
Espumas e travesseiros
Jogados, juntos às roupas,
Testemunhas, solitárias,
Emoções que se repetem
Cada vez mais intensamente,
Freqüentemente,
Insistentemente...

Ápice!
Gritos e gemidos,
Olhos que se fecham,
Sorrisos,
Prazer,
Orgasmos...

O cheiro,
A vontade.
O corpo,
À vontade...





PRISÃO

Acordo
Minhas mãos não se mexem
Minhas pernas estão presas
Com correntes e cordas
Impossíveis de se quebrar...

Tento andar
Mas carrego pesos nas pernas.
Sou vigiado constantemente
Seguranças contratados
Vigias ininterruptos
Câmeras escondidas.
Não me sinto à vontade...

Às vezes
São paredes de vidro
Que me prendem.
Às vezes
As paredes são de aço...

Não agüento mais!
Quero fugir...

Vou usar minhas armas
E matar os seguranças.
Usar minha força
E quebrar as paredes.
Usar a lei
E pedir minha liberdade...

Divórcio!
Eu quero o divórcio...





VINGANÇA

Bebi um pouco a mais
E num passo desajeitado
Pisei em seu pé...

Você não perde tempo
E esmurra minha cara
Que sangra...

Sangue e pinga
Misturam-se em minha boca
Dando sabor
De vingança...

Eu não reajo
Apenas saio
Vou a casa
Pego a arma
Calibre doze
E volto...

Vou ao forró
Deixo a arma escondida
E te vejo
Já bêbado
Abraçando todas
Dançando à vontade...

Nem sabe o que te espera...

Sei seu caminho de volta
E vou te esperar
Mesmo que demore...

Já limpei meu canto
No meio do mato.
A arma está carregada
E quando você voltar
Será apenas um tiro
No peito...

Nunca mais você vai bater em alguém
E fazer a vergonha que me fez
Seu safado...

Nunca mais mexa com um neto de cangaceiro
Neste sertão
No Nordeste brasileiro...



VIDA CONFUSA

Sou homem
Heterossexual assumido
Confuso
Insensível
Cansado da lida...

Apaixono-me todos os dias
Muitas vezes pela mesma mulher
Algumas vezes por outras...

Sem motivos,
Sou muito responsável.
Emotivo,
Sou poeta...

Escrevo muito
Leio pouco
Penso demais...

E misturo meus pensamentos
Faço planos
Que nunca dão certo...

Algumas vezes
Sinto-me numa partida de pingue-pongue
Onde sou a bolinha
Pra lá e pra cá...

Muitas vezes
Sou vidro, um espelho,
Que se quebra facilmente
E vive em cacos...

É isso!
Sou um caco qualquer
Jogado no lixo
Sendo consertado por um menino enorme
Com uma mão enorme
Usando uma cola invisível...

Um menino enorme chamado Deus
Que brinca diariamente comigo...



NOITE DE AUTÓGRAFOS

A fila é grande
Estou atrasado
É minha primeira vez...

Sorrio
Sou simpático
Falso, talvez,
Como é preciso ser...

Falo
Converso com todos
Tiro fotos...

Bebo água
Frases prontas
Dedicatórias mecânicas
Constantes e necessárias...

De repente
Olhos nos olhos
Verdes e verdes
O sorriso paralisa...

Você!
Meu sonho
O anjo que previ
A mulher que me encanta
E que não existia
A não ser em minha fantasia...

O sorriso enfeitiça
Esqueço a dedicatória
Escrevo qualquer coisa
E volto a encará-la...

Ela se vai
Diz qualquer coisa
Não lembro,
Lembro dos olhos
Da boca
Da sombra indo embora
Sumindo...

Meu anjo
Tão de repente chegou
Usou-me e partiu
E me deixou atordoado
Sem saber o que fazer
A partir de agora
Que sei que você não é sonho...

Minha ilusão
Meu sonho
Minha fantasia...

Meu anjo...



MENDIGO

Ele anda pelas ruas
Todos os dias
Em busca de uma moeda
Que o ajude a viver...

São latinhas amassadas
Papel e papelão em demasia
Que nem cabem mais no carrinho...

As roupas
Rasgadas e esfarrapadas
Sem moda.
Suas botas estão boas
Apesar de serem de modelos diferentes...

Sua mulher
Em uma calçada
Ajuda-o na labuta diária.
Seu filho
Pequeno e inocente filho
Pede centavos no semáforo
Para motoristas sisudos...

Sua casa, um barraco,
Tem a vantagem de ser própria
E a desvantagem de não ser casa.
Mas é um lar...

Em sua mesa
Hoje tem feijão e arroz
E ovo frito...

Dorme abraçado à esposa
Que também cheira à pinga
Entre outras coisas.
Seu filho
Dorme como um anjo
No colchão, ali pertinho...

No dia seguinte
Quando volta ao trabalho
Uma mulher do outro lado da rua
Comenta com a amiga:
- Olha lá o mendigo.
Tenho nojo dele...

E ele continua vivendo
Mais feliz
Que aquela pobre mulher...






LOUCURA?

Pois é!
Eu sou louco!
Isso mesmo: eu sou louco!
Louco, mesmo,
De rasgar dinheiro...

Quem me condenou?
Esqueci,
Nem levei em conta.
Pra quê?
Eu sempre me considerei louco...

A loucura está na minha cabeça
Dentro do meu cérebro...

O que penso é diferente
De todos os normais,
As coisas que gosto
Não tem nada a ver.
Converso com pássaros,
Com o vento, com as árvores...

Não gosto de gente,
Não confio em ninguém,
Considero todo mundo falso...

Admiro a natureza como meu Deus,
E abomino as coisas humanas...

Por isso sou louco
E grito, e canto, e pulo,
E faço coisas fora do comum...

E ninguém liga pra nada que faço
Por quê?
Porque sou louco,
E só os loucos podem fazer tudo...

Que delícia...
Eu sou livre!



INUSITADO

Seus lábios
Entreabertos
Esperando minha iniciativa.
E eu
Receoso...

Seus olhos
Aflitos
Pediam carinho.
Chamavam-me
Carentes...

Seus cabelos
Soltos em minhas mãos
Seus lábios em meus lábios
Seus olhos nos meus
Seu corpo
O meu...

Entrelaçamento...
Cobras?
Plantas...?

Tão rápido
Tão intenso
Tão marcante...

Não seria tão perfeito
Se fosse planejado...

Adoro o inusitado...




NEM OLHA...

Você vem
Sorrindo
Vestido vermelho
Olhos verdes...

Senta-se
Longe...

Me vê?
Me olha,
Me ignora...

Sorri
Linda
Dentes perfeitos...

Bebe café
Come pão de queijo
Limpa os lábios
Vermelhos
Batom...

Levanta-se
E vai
Sorrindo...

Nem olha pra trás...





PREDADOR

Tum-tum... tum-tum...

Sinto meu coração
Ainda bate
Mas estou deitado
Não sinto dor.
Mãos puxam meus cabelos
Arrancando em punhados
Todos
Até não ter mais nada...

Puxam minhas unhas
Com alicates, talvez,
Arrancam
Não doem
Mas sangram...

Tum-tum... tum-tum...

Um canivete corta minha pele
Que é arrancada
Pouco a pouco
Até sobrarem apenas carnes e músculos
Que sangram...

Como brincadeira
Diversas mãos me livram da carne
Passam facas nos ossos
E sinto perder os músculos.
Os órgãos internos se expõem
E são arrancados...

Tum-tum... tum-tum...

Meus olhos ainda estão intactos
Minha língua ainda está na boca
Meu cérebro ainda funciona...

Tum-tum... tum-tum...

Sinto meu coração
Mas não sinto o corpo.
Sou uma caveira
Com um coração
Aflito
Ansioso
Batendo, teimoso...

Tum-tum...

Até quando agüentarei...?



ENVIADO

Vim!
Cheguei há 42 anos
Estou lutando
Todos os dias...

Já matei leões
Muitos leões
Dia a dia...

Me taxam
Me criticam
Invejam quem eu sou...

Sempre disse:
Inveja
É falta de capacidade...

Sou louco
Louco de Deus...

Sou um enviado
De Deus,
Dos ETs...

Estou completando minha missão
Todos os dias
Dia a dia
Em verso, em prosa,
Agora, por exemplo,
Enquanto você me lê...

Estou entre o bem e o mal...

Não me critique
Nem me cobre
Sou apenas um enviado
E nada mais me resta
A não ser viver para falar
Pouco a pouco
De mim
De você
De Deus e dos ETs...

E sentir prazer por isso
Como eu sinto...



CHOCOLATE

O chocolate olha para mim
Eu olho para ele
Ele me diz:
- Me come!!!

Eu me recuso
Se eu fizer isso
Serei um ladrão:
- Não posso! Você é da Solange...

Ele insiste
Me mostra suas qualidades
Seu sabor
Sua cor:
- Eu sou gostoso! Aproveita!

Não posso me segurar
Pego o chocolate
Agarro-o
Mordo:
- Hummmmm...

Saciado
Comparo minha vida:
Se tudo que for gostoso
Também for irresistível
Eu vou agarrar muita gente...

Você, por exemplo...





ANDARILHO

Uahhhhh!
Já amanheceu
Os cachorros latem
E não me deixam dormir...

Me sentei
Peguei a água ao meu lado,
Tomei um gole,
Que sede...!!!

Acho que vou ao banheiro...

Me levantei
Peguei a sandálias que achei,
Legítimas, que não solta as tiras,
Mas, bastante gastas...

Olhei para um lado,
Para o outro,
Me levantei e fui
Fazer meu xixi
Atrás do caminhão,
Perto do pneu...

Escondido,
Ninguém viu...

Que horas são?
Deve ser muito cedo ainda
Ninguém está de pé
Só os cachorros latem...


Me deitei novamente,
Escondi minhas sandálias
Para ninguém roubar,
É claro...

Me cobri com o cobertor
Que Deus me deu
Conforme meu frio e o provérbio...
Daqui a pouco vou ao banco
Mas não irei sacar nem depositar
Vou tomar café
Comer bolachas...

Não foi colocado ali, para mim,
Eu sei disso,
É para os aposentados.
Mas, cá pra nós,
Eu posso me considerar um aposentado...

Afinal,
Não quero mais responsabilidades.
Estou fugindo do stress,
De todas estas doenças
Que a sociedade inventou...

Quero viver
Apenas isso,
Em liberdade,
Como os pássaros e as plantas
Esperando a comida de cada dia
Conforme tiver que ser...

Meu amigos são tantos
Que só consegui dar valor
Agora,
Depois da minha aposentadoria...

Antes, tinha apenas conhecidos
Com quem não tinha tempo
Nem de conversar...

Meus filhos podem se envergonhar,
Minhas ex-mulheres nem querem me ver,
A sociedade me taxa de excluído...

E eu?
Sou o homem mais feliz do mundo
Porque sou livre
E tenho o mundo aos meus pés...
Sou andarilho...





NADA

Não sou nada
Vôo
Apenas vôo
Como uma pena ao vento
Uma folha no outono...

Levado pelo destino
Sem intuição
Às vezes
Peito aberto
Cabeça erguida,
Outras vezes
Triste
Deprimido
Chateado...

Não sou nada...

Quando percebi isto?
Não sei
Era tarde demais
Tudo rodava...

O que sinto?
Um vazio
Sua falta
Dores...

O que eu quero?
Não muita coisa
Talvez viver
Ou apenas morrer...





MENTIRAS

Você mente demais
Eu te vi!
Lembra disso?
Eu te vi...

Você estava abraçada ao cara
Beijava-o
Eu vi bem...

O quê?
Mentira?
Você acha que estou inventando?
Pra quê eu faria isso?
Deixa de ser estúpida...

Olha
Eu não te quero mais
Fica com o cara...

Não existe cara?
Tá bom, tá bom,
Então eu sou cego?
Ou estou vendo demais...?

Era um amigo?
Tá vendo! Existe o cara...
Mas era apenas um amigo...

Amigo?
Beijando na boca?
E aquele abraço?
De tão apertado só parecia um...

Não te quero mais
Vai viver a sua vida
E eu vou viver a minha.
Talvez eu sofra um pouco
Mas vou ficar legal...

Aliás,
Antes disso
Vem cá!
Me dá um beijo...

Smack...

Pronto
Este beijo
É para esse cara já ir se acostumando
Com suas traições...

Tchau...



MORTE

Os olhos
Fixos para o céu
Não vêem nada...

O azul do céu
Nada mais é
Do que um passado.
O canto dos pássaros
Não mais existe.
O cheiro das flores
Sumiram...

Os olhos
Verdes
Fixos para o céu
Não vêem nada...

A água do mar
Em ondas
Tocam o corpo
Que não sente frio
Nem calor
Nem nada...

Os olhos
Verdes
Abertos
Fixos para o céu
Não vêem nada...

Um corpo
Inerte
Como uma pedra
Sem vida
Carne apodrecida
Pelo tempo...

Meus olhos
Verdes
Nada vêem...

Depois que você se foi
É como se eu tivesse morrido...



ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

O vizinho da direita
Já está no carro
Pronto para o batente
Indo para o trabalho...

O vizinho da esquerda
Repete sua rotina
Continuamente...

Robôs
Num sistema cíclico
Repetitivo
Infinito...

Sorrir, chorar, molhar o rosto,
Falar, gritar, escovar os dentes,
Tomar café...

E eu
Nobre louco egoísta
Sou estranho
Porque penso e faço o que quero
Porque quero, eu repito,
E repito porque quero
O que o sistema não quer...

Minha camisa não está mais à venda
Já foi moda, hoje é brechó,
Minha calça já foi jeans
Hoje é um pano azul desbotado
Meus cabelos cresceram
Minha barba também...

Meu sorriso é de alegria
Não tenho botão liga/desliga
Não adianta querer me mudar...

Se sou tudo isso
Sou porque sou louco
Desvairado e maluco
Hippie, doido varrido
Sujo, feio e banguela
Mas sou o que eu quero ser...


ORGASMO ESPIRITUAL

Ainda é cedo
O sol não queima...
Esquenta...
O vento bate em meu rosto
A água salgada toca meus pés...

Longe, a gaivota voa sobre o barco.
Perto, sua presença...

Seus cabelos, seu corpo,
Suas curvas, perfeição...
Seu sorriso a cada comentário,
Sua atenção ao que falo
Seus toques...

Alegria e prazer,
Reconhecimento da presença divina,
A imensidão do mar
A sensação de liberdade...

Apenas eu e você,
Numa praia deserta,
Toda a areia, todo o mar,
O céu e o sol...
Orgasmo espiritual...





ONDAS

Ando
A areia fofa me agrada
O sol a pino
E o vento sopra forte...

As ondas
Grandes
Me acertam
Cada vez mais violentamente...

E me despertam
Do transe que tive
Quando te perdi...

Minha cabeça nada pensa
Meu coração está doendo
As lágrimas caem dos olhos
E não sinto nada
Nem ódio, nem medo,
Apenas uma falta imensa
Um vazio infinito
Dentro de mim...

E ando
E as ondas batem
Cada vez mais forte...

Você não está mais aqui
E eu não tenho motivos para viver
Sozinho...

Éramos um
Em dois corpos,
Agora sou ninguém
Sem você...




TERAPIA

Do lixo
Ao luxo,
Da aura, o ouro...

A alma,
Clara
Eu...

Quem me viu
Nem me reconhece...

Só posso fazer mal
a mim mesmo...”
E bem?

E se eu digo venha
Você traz a lenha...?”

Sou assim
Confusão de idéias
União de resultados
Positivos e negativos
Sem vergonha
Sem medo
Sem medos...

Estou bem
Muito melhor
Minha terapia são as poesias
E você
Com o que você me fala...

Afinal
Aprendi que “a gente sofre de teimoso
Quando esquece do prazer...”




MEU MUNDO

Big Bang
Poeira espacial
Micróbios...

Areia, terra,
Água e pedra
Solidificações...

Um planeta, um mundo...

Vida!
Homens e animais
Vegetais e minerais...

Um mundo...

Mas,
O mundo é de quem sonha...

O mundo é meu!
Todos os dias
O mundo é meu...

Sonho
Sempre
Olhos abertos e fechados
Sonhos vêm e vão
Formam-se
E se destroem
A todo instante...

Mas são sonhos
E são meus...

Como o mundo...




AREIAS DE MAXARANGUAPE

Final de tarde.
O sol se pondo.
Eu ao seu lado,
Caminhando,
Sentindo a água do mar
Batendo nos pés.
O vento tocando nossos corpos
Completamente à vontade...

Mãos dadas,
Esbarrões sensuais,
Paradas obrigatórias,
Beijos,
Buscas...

Final de tarde...

Como são as suas mãos?
Como são seus olhos?
Como será caminhar ao seu lado?

Você é a mulher de meus sonhos?

Final de tarde
Vento na pele
Levantando os cabelos
Jogando respingos das ondas nos nossos olhos...

Final de tarde
Em Maxaranguape...

Eu e você,
Mulher.
Eu e você,
Seremos um só.
Só um sonho...


MATEMÁTICA SEXUAL

Uma skol
Um beijo.
Duas skol
Dois beijos...

Uma caipirinha
Três beijos
Um uísque
Quatro beijos...

Mais skol
Cinco beijos
Muito mais skol
Seis beijos...

Pinga pura
Dez beijos.
Conhaque
Sexo...

Mais conhaque
Mais sexo
Uísque, vinho, campari:
Amor...

Muito amor...





AVALON

Sou guiado
Um barqueiro estranho me conduz
Agora que a bruma deu uma trégua
De minutos...

Vejo a espada
Está segura por uma mão
Seu destino é Artur, o rei,
Seu nome, Excalibur...

Chego na ilha
Vejo as noviças
Devotas à grande Deusa...

Viviane as lidera
São donzelas
Devotadas à Deusa
Também à Morgana
A fada
Irmã de Artur, o rei...

Depois
Na Távola Redonda
Contarei a todos
Sobre aquele dia
Em que conheci Avalon
A Ilha das Maçãs...

Uma vida
Antiga
Relembrada em sonhos...





VIDA SAUDÁVEL

Moro sozinho
Apenas um quartinho
Um banheiro
Cama, geladeira e fogão,
E muita paz...

Acordo quando quero
Independentemente da hora
Pode ser dia ou ainda noite
A vida é minha
A hora me pertence
Não dou satisfação a ninguém...

Escrevo muito
A todo instante
Sobre tudo...

As idéias vêm
Anoto-as
Em qualquer momento...

Ando pela praia
À noite, de dia,
Com sol ou com chuva
Sozinho...

Tudo vira poesia...

A concha na areia
O peixe semimorto
O barco de pesca chegando da pescaria
O sol que se põe
A lua cheia no céu...

Uma vez por ano
Durante trinta dias
Você me visita...

Você é especial
É a única razão que me mantém sociável
Senão já teria virado índio
E me embrenharia na mata...

Você vem
Com seus olhos verdes
Seu jeito estonteante
Sua inteligência invejável
Suas brincadeiras saudáveis
Seu carinho provocante...

Trinta dias por ano
Eu te tenho.
Você não fica mais que isso
Eu não vou para onde você me chama
E tudo se repete ano a ano...

Vivo dia a dia te esperando
Me alimento desta saudade
Sobrevivo para te esperar...

Conto os dias
Conto os meses
Mas vivo todos eles
Intensamente...

Pesco
Como peixe
Temperado apenas com sal
Assado na brasa...

Plantei umas frutas
Crio galinhas
Tenho um cachorro companheiro
E uma rede na varanda...

O violão já encostei
As fotos são minha diversão
O mar é minha vida
As obrigações sociais as minhas aversões...

As palavras aparecem na mente
E as transformo em poesias
Em contos
Em histórias...

Assim é minha vida
Saudável
Feliz
Invejável...

Não lembro da minha última dor de cabeça
Não lembro da última nota de cinqüenta
Não lembro do saldo da conta...

E sou feliz por isso
Por estar vivo
Ter braços e pernas
E morar na praia
Num quartinho
Com banheiro
Cama, geladeira e fogão,
Cerveja gelada me espera
E o seu vinho guardado
Pois trinta dias por ano
Você vem me visitar
E falamos de amor...

Trinta dias por ano
De amor
Com você...





APÓS MORTE

Tantos olhos
Muitos rostos
Todas as cores
E ninguém igual a você...

Óculos
Nos olhos
Na cabeça
Na mesa...

Tantas pessoas
Todas diferentes
Cabelos, sorrisos,
Pesos e alturas...

E ninguém igual a ninguém...

Quem é dono deste molde?
Como é possível não repetir?
Coincidências universais...

Quem é este ser
Que nos fabrica
E não nos deixa repetir...?

Perguntas que se confundem
E por si só se respondem
Pois se há morte depois da vida
O que haverá
Depois da morte...?






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