PERGUNTAS
Onde
você estará daqui a cinco anos?
Onde
você estará morando?
Qual
será a sua cidade?
Quem
estará contigo?
Seus
filhos? Seus pais?
Seu
namorado?
Você
estará sozinha?
O
que terá no seu futuro?
Escola?
Trabalho?
Festa
e diversão?
Como
será sua saúde?
Como
você estará financeiramente?
Quantos
bens você terá?
Seus
desejos são realizáveis?
Ou
são apenas sonhos?
O
que você está fazendo hoje
Para
que isso aconteça?
Seus
atos condizem com suas vontades?
Está
plantando corretamente o que pretende colher?
Seus
filhos irão querer viver contigo?
Seus
amigos irão te querer por perto?
Seu
namorado a pedirá em casamento?
Ou
você será apenas um estorvo na vida deles?
O
que você está fazendo para que isso aconteça?
São
apenas perguntas
Mas,
Será
que você tem as respostas...?
TELEVISÃO
São
oito horas
Noite
Ligo
a tevê
E
passo os canais...
Nada
me interessa
Novelas,
seriados, filmes,
Repetidos
Repetitivos...
E
me estresso
E
não me controlo
Quando
chuto o aparelho
Que
cai do módulo
E
estoura no chão...
E
aproveito para chutar mais
Naquele
aparelho imóvel
Com
fumaça subindo
E
sem resistência...
Como
um vencedor
Olho
para aquilo imóvel
Sem
ninguém na tela
Sem
vozes
Nem
movimento...
Ganhei
da novel
Venci
o filme dublado
Derrotei
o Superman...
Agora,
mais calmo,
Posso
pegar meu uísque
O
meu livro preferido
E
ver o que Freud falou
A
meu respeito...
FILHOTE
O
caminho está aí
Na
sua frente
E
você não vai...
Por
quê?
O
que te impede?
Tudo
bem
Vou
te ajudar
Vou
preparar sua mochila
Colocar
comida, roupas,
Tudo
que você vai precisar
Na
viagem
Está
bem?
Mesmo
assim você não vai?
Agora
Não
estou entendendo mesmo...
Vive
reclamando de tudo e de todos
Que
nada vai bem
Que
quer coisas diferentes
E,
quando pode mudar,
Não
muda...
Parece
criança barriguda
Piolhenta
Daquelas
bem teimosas...
Tudo
bem,
Vou
te dar mais uma chance
Mas,
presta atenção,
É
a última...
Vou
ficar ao seu lado
Mas
não por muito tempo
Então
seja rápida...
Vou
te ajudar a caminhar
Serei
a sua muleta
Mas,
lembre-se de meus limites,
Estou
com os dias contados...
Se
você quiser me ajudar
É
fácil,
Basta
criar asas,
E
batê-las,
E
voar...
E
não tenha medo de cair
Seja
como o filhote da águia
Empurrada
pela mãe
Do
ninho, no precipício...
Se
cair, morre,
Mas
nunca uma águia morreu
Por
causa dessa queda...
Todas
as águias voam
Antes
do toque final
No
solo...
Seja
assim,
Por
favor,
Voe,
com suas próprias asas,
E
atinja os mais altos céus,
Conheça
as mais longínquas montanhas...
E
aí, então,
Quando
voltar,
Te
receberei
De
braços abertos
E
só então estaremos completos...
SOMBRAS
Como
um cego
Ando
por aí
Quase
sem ver nada...
Vejo
apenas luzes
E
sombras
De
pessoas
Homens
E
mulheres...
Estendo
os braços
Não
quero esbarrar em algo
Que
me machuque...
Ando
devagar
Posso
tropeçar
E
cair...
Apesar
dos cuidados
Esbarro
constantemente
E
firo meu coração...
Estou
atento
Mas
caio quase sempre
E
machuco minha alma...
E
as sombras vêm
Com
vozes diferentes
Sotaques
diversos
Jeitos
e trejeitos
Cheiros
e cores
Envolventes
Que
me confundem...
Me
usam
Me
entrego...
Fico
frágil
Sou
enganado
Por
sombras sem sentimentos...
Caio
Levanto
Tento
de novo...
Sombras
vêm
Sombras
vão
E
continuo
Como
um cego
Procurando
alguém
Que
seja a última
A
única
Para
meu futuro...
TERRA
DO NUNCA
Estou
acordando
Bocejo,
sono,
E
nem dá tempo
Sinto
o pó de pirlimpimpim sobre mim
E
começo a voar...
Peter
Pan passa raspando
E
me arrasta com ele:
-
Vamos visitar as sereias...
E
vou.
Afinal,
elas são lindas...
Brincalhão
como sempre
Peter
Pan visita Capitão Gancho
Que
tira um pequeno cochilo
E
lhe puxa o nariz
E
se esconde...
Morremos
de ri quando Gancho toma um susto
E
desconta em Barrica
Dando-lhe
um enorme chute...
Peter
Pan não perde o costume
De
aprontar com Gancho, o capitão,
E
estou ao seu lado, Peter,
Na
mesma idade,
Voando
e voando...
A
Terra do Nunca é nossa
E
o tempo não passa
Não
sinto a idade...
Brincamos
com Sininho
Ouvimos
as histórias da Wendy
Aprontamos
com os Meninos Perdidos
E
tomamos banho com as sereias...
Todos
os dias
Todas
as horas
Ainda
sou menino...
Não
aceito virar adulto...
CAFÉ
Café
simples
Café
composto...
Café
com açúcar
Café
com adoçante...
Café
forte
Café
fraco...
Café
frio
Café
quente
Café
morno...
Café
puro
Café
com leite?
-
Não, obrigada.
Pode
ser um capuccino...?
ALMA
GAY
Sou
homem
Machão
Machista
Heterossexual...
Sou
poeta
Tenho
a alma gay...
Meus
sentimentos
São
femininos
Pois
amo
Choro
e sofro
Como
só uma mulher pode fazer...
Meus
atos
Meus
preconceitos
São
masculinos.
Bato
e apanho
De
punho fechado
Como
só o homem pode fazer...
Mas
escrevo
Com
o coração
Mandado
Pela
minha alma gay...
Te
beijo
Te
desejo
Te
amo
Como
só um homem é capaz...
E
faço poesias pra ti
Exteriorizando
minha emoção
Como
só a minha alma é capaz...
Minha
alma gay...
VENTO
NO LITORAL
À
tarde quero descansar
Chegar
até a praia e ver se o vento está forte
Vai
ser bom subir nas pedras
Vou
deixar que as ondas me acertem
E
tentarei te esquecer...
Deixei
meus passos
Mas
você era um anjo
Voou
sobre a praia
E
não viu minhas pegadas...
Planejei
Construí
nosso castelo
Mas
você sempre brincou comigo
Como
uma criança
Aos
dezesseis anos...
Hoje
você me abandonou
Outro
te dá prazer...
Me
deixou com meus dias mal vividos
Minhas
noites mal dormidas
Sem
motivos para viver...
Vou
deixar que as ondas me acertem
E
me levem
Para
o fundo do mar...
Vou
deixar que a água salgada
Encha
meus pulmões
E
meu coração vai parar
E
te esquecerei...
Ei,
olha só o que achei: cavalos marinhos...
(Inspiração:
Vento no litoral –
Legião Urbana)
CANSEI
DO VIRTUAL
Cansei
de Orkut, cansei do MSN,
Cansei
de computador...
Quero
olhar nos olhos,
Quero
sentir calor
Quero
pegar no colo,
Quero
sentir amor...
Cansei
do virtual, isso é irritante,
Tudo
igual, a todo instante.
Já
tive namoradas,
Encontros
emocionantes,
Acabaram
de repente,
É
assim a todo instante...
Cansei
de computador, isso é frustrante,
Não
quero ser mais uma máquina.
“Desculpa
não responder
Mas
eu estava viajando...”
Será
verdade? Será mentira?
O
que estarão tramando?
Cansei
da falsidade da Internet
Quero
seguir pra frente e não para trás...
Vou
quebrar minha máquina
Vou
jogá-la no chão,
E
com um pedaço de pau
Transformar
tudo em cacos...
Cansei
de internet
Cansei
das coisas pela metade...
Cansei
de computador,
Cansei
de ser manipulado,
Quero
mandar na minha vida tendo você do meu lado...
SOU
ONDAS
O
mar
Tanta água
Vindo em ondas
Batendo nas pedras...
Tenta movê-las?
As pedras
Imóveis na praia
Vêem as ondas vindas em sua direção...
Tenta contê-las?
É inútil.
Tudo é inútil e tão necessário...
A vida
Como um mar.
Às vezes somos ondas
Devastamos
Arrastamos o que temos pela frente
Até a estabilidade da pedra que surge...
Às vezes somos pedras
Bloqueamos sucessos
Arrasamos sonhos
Por falta de capacidade de sonhar...
Às vezes sou onda,
Noutras sou pedra.
Contradição...
Tensão da liberdade de ser,
Apreensão pelos resultados de estar.
A incerteza do pensar e agir...
Sou ondas
Estou ondas.
Estive pedra...
Tanta água
Vindo em ondas
Batendo nas pedras...
Tenta movê-las?
As pedras
Imóveis na praia
Vêem as ondas vindas em sua direção...
Tenta contê-las?
É inútil.
Tudo é inútil e tão necessário...
A vida
Como um mar.
Às vezes somos ondas
Devastamos
Arrastamos o que temos pela frente
Até a estabilidade da pedra que surge...
Às vezes somos pedras
Bloqueamos sucessos
Arrasamos sonhos
Por falta de capacidade de sonhar...
Às vezes sou onda,
Noutras sou pedra.
Contradição...
Tensão da liberdade de ser,
Apreensão pelos resultados de estar.
A incerteza do pensar e agir...
Sou ondas
Estou ondas.
Estive pedra...
ROMANCE
VIRTUAL
MSN,
Orkut, Gazzag
Você escolhe a forma
Onde e quando nos encontraremos...
Você escolhe a forma
Onde e quando nos encontraremos...
Verei
seu rosto
Lerei seu perfil
Gostarei de ti...
Lerei seu perfil
Gostarei de ti...
Seu
papo é gostoso
Sensual quando tiver que ser
Profissional quando necessário
Pessoal e intransferível...
Sensual quando tiver que ser
Profissional quando necessário
Pessoal e intransferível...
Seu
emoticons
Seus símbolos
Letras q c fazem entender...
Seus símbolos
Letras q c fazem entender...
Talvez
tenha uma câmera
Onde possamos nos ver
E nos expor
Talvez até em intimidades...
Onde possamos nos ver
E nos expor
Talvez até em intimidades...
Com
toda exposição
Não terei certeza de nada
Das verdades e das mentiras
E tudo balançará...
Não terei certeza de nada
Das verdades e das mentiras
E tudo balançará...
E
acabaremos virando amigos
E acabaremos nem sendo amigos
E acabaremos nos excluindo
E tudo acabará...
E acabaremos nem sendo amigos
E acabaremos nos excluindo
E tudo acabará...
Até
o próximo encontro
Com outro contato
Com outra história
E começar tudo de novo.
Recomeçar,
E mais uma vez:
Amar...
Com outro contato
Com outra história
E começar tudo de novo.
Recomeçar,
E mais uma vez:
Amar...
PEDRA
NO RIO
Sou
uma pedra
No
meio do rio
Imóvel...
Sou
uma pedra de rio.
Às
vezes a água sobe
Com
as chuvas
E
me encobre
Escondendo-me.
Às
vezes a água desce
Com
a seca
E
apareço mais...
Normalmente
Há
bastante água
Mas
não me encobre.
E
eu fico ali
No
meio
Isolado
como uma ilha
Sozinho...
As
pessoas me olham
Comentam
a beleza que causo
Ali,
sozinha,
No
meio do rio,
Em
meio à natureza...
Esforçam-se
Sobem
em mim
Fazem
poses
Tiram
fotos.
Eternizam-me...
Mas,
todos se vão,
E
eu fico.
Afinal,
sou uma pedra,
Uma
pedra de rio
Sozinha
Esperando
a cheia
Para
ver se me afogo
Definitivamente...
Mas
sei que não vai acontecer...
De
repente
Vejo
as águas
Que
não me destroem...
As
águas me rodeiam
Me
evitam
E
não me arrastam.
Dão
a volta
Mas
não me abalam...
Me
sinto forte
Uma
verdadeira rocha
Uma
montanha...
Tão
forte que sinto vontade de gritar
Mas,
não grito...
Não
grito
Não
me mexo
Não
me solto...
Não
sou livre...
Sou
apenas
Uma
pedra.
Uma
pedra de rio
Sozinha...
Esperando
sua visita
Quem
sabe
Para
tirar mais fotos
Em
cima de mim...
E
indo embora...
Me
deixando
Mais
uma vez
Sozinha
no rio...
VIDA
VIRTUAL
Uma
deixa mensagem no Orkut
Fala
que me ama
Diz
que me quer
Que
não vive sem mim...
E
você briga.
Diz
que tem ciúmes
Fica
sem conversar
E
faz biquinho de raiva...
Outra
manda mensagens no celular
Que
você lê
E
vê que ela me ama
E
vê que ela me quer
Mas
mora tão longe...
E
você se irrita.
Diz
que vai embora
Nunca
mais vai olhar na minha cara
Promessas
e mais promessas...
No
e-mail, mensagens sacanas,
No
site, comentários bem pessoais,
No
telefone, uma voz feminina...
E
você se incomoda
Não
quer falar comigo
Não
vai mais fazer cafuné
Só
faz o quer...
Amor,
não fica assim.
Tem
tanta gente no mundo
Mulheres
me procuram
Mas
são todas virtuais, você não vê?
Real?
Só você...
Pense
assim
Todas
elas desejam e sonham
Mas
quem me tem?
Só
você...
MICROSCÓPICO
Tenho
certeza
De
que tudo começou
Com
um beijo...
E
não deve ter sido um simples beijo
Desses
comuns
No
rosto, nos lábios...
Deve
ter sido um beijo na alma
Que
me estimulou
A
lutar
A
querer chegar...
Não
me lembro de nada
Mas
aposto no beijo,
Nas
mãos se tocando
Pernas
em frenesi
Coxas
em coxas
E
o beijo
Longo...
O
orgasmo...
Eu
fui o único
Apenas
um iria conseguir
E
fui eu...
Não
me lembro de nada
Se
nadei
Se
corri ou pulei
Mas
sei que consegui
Chegar
em primeiro...
A
minha primeira vitória
Tão
pequeno
Microscópico
E
superei milhões
De
concorrentes...
E
virei poeta
Para
expressar o amor
Que
meu pai e minha mãe
Tiveram
Ao
me conceber...
Estou,
novamente,
Na
batalha
Na
concorrência da vida
Contra
milhões...
Mas,
vou conseguir novamente
E
vou superar tudo e todos
E
chegar ao topo...
Ao
topo do mundo...
TEMPO
Entrei
na máquina
O
tempo está em minhas mãos
E
volto
Vinte,
trinta anos atrás
Sou
um rapaz
Com
minhas dúvidas
E
minhas certezas...
O
que vou mudar?
O
primeiro beijo?
A
primeira experiência sexual?
A
primeira tragada do baseado?
O
que mudar?
Não
Não
vou mudar nada.
Naquele
momento
Meus
acertos e meus erros
Eram
para acontecer...
Sem
tirar nem pôr
Sou
reflexo daquilo que aconteceu
Quando
tinha que acontecer...
Vou
um pouco mais para frente
Já
tenho um filho
Sadio
e lindo.
Como
é bom...!
Deixa
estar
Não
vou mudar também
Apesar
de errar na tabelinha
O
filho só me deu alegria...
O
tempo passa
Entro
no Banco do Brasil,
Saio
do Banco;
Caso,
Separo;
Estou
bem,
Fico
mal,
Volto
a ficar bem...
O
que mudar?
Ainda
não tenho nada a mudar
Tudo
era para acontecer
Como
aconteceu...
Voltei
ao presente
E
enxugo as lágrimas de saudade
E
volto
Vou
viver o presente
Vou
viver o agora
Com
meus erros e acertos atuais
Os
problemas e os prazeres de dois mil e seis...
Vou
viver o presente
E
posso te dar um presente:
Vem
comigo...!
Carpe
diem...
CRIANÇA
Joguei
bolinha de gude
Rodei
pião
Virei
figurinhas...
Futebol
com os amigos
Descobertas
Invenções...
Bonecos
criavam vida
Sonhos
reais
Espírito
que viajava...
Vivia
o agora
O
momento
Nunca
me preocupava com o amanhã...
Hoje,
tudo mudou,
As
preocupações de gente grande
Me
pegaram
E
me destruíram...
Vivo
o ontem
E
o amanhã...
Hoje
é dia das crianças
E
lágrimas caem
Pois
sei que sou moleque
Brinco
com minhas figurinhas virtuais
Jogo
bolinhas de gude on line
E
rodo piões...
Mesmo
moleque
Não
vivo o hoje
E
sofro por isso...
Não
seja como eu
Viva
como uma criança
Viva
hoje
Apenas
hoje e seja feliz...
A
FLAUTA
Quando
fui monge
Aprendi a entender a música
Os dedos preenchendo furos no bambu
O som invadindo ouvidos
O prazer de criador
O sonho realizando...
Aprendi a entender a música
Os dedos preenchendo furos no bambu
O som invadindo ouvidos
O prazer de criador
O sonho realizando...
Depois
fui camponês
Conheci o poder da terra e da água
Precisei do som, mas fugi
Eram só animais
E o bambu se desfez...
Conheci o poder da terra e da água
Precisei do som, mas fugi
Eram só animais
E o bambu se desfez...
Como
mulher, fui bruxa
Dominante, assustadora
Dominei a música
Tambores, bambu, cordas
Superior, exaltei e morri...
Dominante, assustadora
Dominei a música
Tambores, bambu, cordas
Superior, exaltei e morri...
Romano
Guerreiro, sem tempo, sem luz
Uma única vez o menino
Mostrou o som que fazia
Ignorei, pois era guerreiro
E não me atrevi...
Guerreiro, sem tempo, sem luz
Uma única vez o menino
Mostrou o som que fazia
Ignorei, pois era guerreiro
E não me atrevi...
Moderno,
não sou ninguém
Porém está quase no fim
Meu descanso já é prometido
Porém está quase no fim
Meu descanso já é prometido
Tudo
volta ao normal
Olhos abertos te sinto
Olhos fechados te ouço
Na luz, aprendo, sou menino
Na sombra, ensino, sou homem...
Olhos abertos te sinto
Olhos fechados te ouço
Na luz, aprendo, sou menino
Na sombra, ensino, sou homem...
E
o que era bambu
Virou metal
Se transformou.
O som continua o mesmo
O espírito continua idêntico
E tudo chega afinal
Ao final...
Virou metal
Se transformou.
O som continua o mesmo
O espírito continua idêntico
E tudo chega afinal
Ao final...
FLERTE
Rodoviária
do Tietê.
Depois
de duas horas
Cheguei.
Estou
na Capital...
Metrô.
Loucura
essencial
Para
chegar onde quero...
Mochila
nas costas
Lista
de compras no bolso
Lá
vou eu para as filas:
Bilhete
Catraca
Trem...
Fico
de pé
Encosto
no fim do vagão.
Tenho
todos à minha frente...
Vejo
homens
Olho
mulheres
Leio
propagandas...
Estação
Tietê
Estação
Tiradentes...
Ela
entra
Senta
Me
vê...
Encara.
Eu
a encaro.
Ela
desvia os olhos...
Linda...
Boca
perfeita
Sorri
Não
sei de quê...
Olhos
curiosos
Que
voltam
E
me vêem.
Encaram
Entram
em minha alma...
Também
a invado
E
sorrio.
Ela
retribui...
Estação
Luz
Estação
São Bento...
Levanta-se
Espera
o trem parar.
Estação
Sé.
Ela
desce
Vira
e me vê...
Pára.
As
portas do trem se fecham
Ela
pisca.
Ela
sorri
O
trem acelera...
Ela
manda um beijo
Com
um gesto...
Inesquecível...
Na
grande cidade
Na
super Capital
Onde
dois corpos
Jamais
voltam a se encontrar...
Onde
um flerte
Nunca
vira coincidência...
TEU
BEIJO
Adoro
Quando
encosto minha boca na sua
E
nossas línguas se encontram,
Se
tocam,
Se
acariciam...
Numa
busca infinita
Te
encontro
E
te perco...
Minha
boca deixa a sua
E
acha seu pescoço.
Te
beijo
E
me perco entre seus cabelos
Úmidos.
Sinto
seu cheiro
De
fêmea no cio...
Seu
corpo
Nu
Molhado
Sente
minha boca
Em
diversos lugares
Expostos
e escondidos
Sedentos
De
amor e sexo...
Seios
Umbigo,
barriga,
Coxas,
pernas,
Dedinhos...
Te
encontro
Entre
beijos furiosos
Molhados.
Te
viro e reviro
Ao
avesso.
Obedecendo
ao desejo do corpo:
Puro
tesão...
BELA
FLOR
Não
tenho mais pernas
Tudo
treme
Estou
cansado
Não
consigo mais andar...
Tenho
que subir esta montanha
É
a última coisa que me falta
E
tenho que conseguir...
Me
disseram que lá em cima
Tem
a mais bela flor
A
única do mundo
E
é o que falta eu te dar
Pois
já te dei tudo...
Me
arrasto
Agarro,
arranho, sangro,
Mas
chego ao topo...
A
mais linda das flores me espera
Nunca
vi igual
Única
A
maior raridade do Planeta...
Levo
minha mão
Vou
arrancá-la
Mas
não consigo...
É
demais pra você
Não
farei isso...
Tenho
uma idéia melhor
E
vou até o precipício
E
me jogo...
Meu
corpo se esfacela,
Dilacera
e se desfaz
Aos
poucos
Como
você merece...
A
última coisa que te dou
É
a minha morte,
Pois
a vida sempre foi sua...
PRESSA
Tenho
pressa
Quero
ter minha vida
Tranqüila
à beira-mar...
Saí
na frente
Te
esperei
Você
não vem
Nunca
chega...
Corro
novamente
Não
posso caminhar
Tenho
pressa...
Você
desiste
Cansa,
fica pra trás.
Sinto
muito
Preciso
continuar...
Tenho
pressa
Quero
chegar.
Realizar
meu sonho...
DOIS
ANIMAIS
Olhares,
que sugerem,
Sussurros
que se fazem entender,
Sinais,
que definem,
O
encontro, inevitável...
Roupas,
que se perdem,
Nudez,
exposição da carne,
Beijos,
sensualidade à flor da pele,
Roçar
de corpos, sensibilidade...
Calor,
aumentando e transformando,
Penetrações,
prazeres expostos,
Prazer,
busca constante,
Orgasmos,
premiação dos anjos...
Olhares,
satisfação,
Sussurros,
sugestivos,
Sinais,
mostrando o caminho,
Repetições,
inevitáveis...
TEATRO
Subam
as cortinas
O
espetáculo vai começar...
Eu
sou o astro,
Faço
rir
Faço
chorar,
Tenho
todos os sentimentos
Ao
seu dispor...
Uso
máscaras
Tenho
véus,
Me
escondo de tudo...
Mas,
quando a máscara cai,
Ninguém
nota,
Porque
eu continuo a interpretar
O
meu papel
O
único possível...
O
papel de um homem
O
papel de um poeta,
Que
sofre e que chora,
Mas
que também ama
E
é feliz...
São
diversas peças,
Em
diversos atos,
E
sou o artista principal...
Todos
os dias
Tem
um novo espetáculo,
Uma
nova estréia,
E
o encerramento
De
uma temporada...
Platéia
querida
Obrigado
pela presença
E
voltem sempre...
Podem
abaixar as cortinas...
MELISSA
Seus
olhos
Me
invadem
Me
desnudam...
Seus
olhos
Cor
de mel
Cor
de Melissa...
Eu
não devia ter deixado
Você
me invadir.
Não
devia...
Você
aproveita minhas falhas
Tenta
descobrir
De
onde te conheço.
E
me invade...
Conhece
minhas vidas
Relembra
minhas últimas seis mortes.
Passado,
Futuro...?
Uma
invasão
Secreta
Sem
confissões
Pessoal
Única
Intensa...
Eu
falhei contigo
Não
devia ter deixado
Você
me olhar
Me
encarar
Me
invadir...
Eu
falhei contigo:
Você
podia até conhecer meu corpo
Mas
não devia ter lido minha alma...
A
CAVERNA
Estou
na caverna.
Tudo está escuro
Não reconheço este lugar...
Dormi.
Quando acordei estava aqui,
Apalpando as paredes
Procurando luz...
Tudo está escuro
Não reconheço este lugar...
Dormi.
Quando acordei estava aqui,
Apalpando as paredes
Procurando luz...
Nada
vejo,
Nada ouço.
Estou sozinho nesse lugar estranho...
Nada ouço.
Estou sozinho nesse lugar estranho...
As
vozes que escuto estão dentro de mim
As cores que vejo são vagas lembranças...
As cores que vejo são vagas lembranças...
Cadê
o verde de seus olhos?
Onde está o brilho do sol?
O azul do mar?
O branco da espuma das ondas...?
Onde está o brilho do sol?
O azul do mar?
O branco da espuma das ondas...?
Onde
está tudo?
Como vim parar aqui?
As dúvidas me acompanham...
Ando por muito tempo...
Como vim parar aqui?
As dúvidas me acompanham...
Ando por muito tempo...
Continuo
apalpando as paredes
Procurando a saída...
Procurando a saída...
Canso.
Sento-me.
Vou esperar...
Não sei o quê, mas vou esperar...
Enquanto espero
Tenho boas lembranças de minha vida.
Também tenho lembranças ruins...
Sento-me.
Vou esperar...
Não sei o quê, mas vou esperar...
Enquanto espero
Tenho boas lembranças de minha vida.
Também tenho lembranças ruins...
Às
vezes, choro.
Muitas vezes, sorrio.
Respiro fundo para prosseguir caminhando...
Muitas vezes, sorrio.
Respiro fundo para prosseguir caminhando...
E
prossigo...
Sinto
o ar do lado de fora
Sei que a luz está ali, ao lado,
Tão perto
E tão distante...
Sei que a luz está ali, ao lado,
Tão perto
E tão distante...
Tudo
continua escuro.
Como chegar até a luz?
Como ver o brilho de seus olhos?
Não sei.
Não tenho respostas...
Como chegar até a luz?
Como ver o brilho de seus olhos?
Não sei.
Não tenho respostas...
Desisto!
Vou esperar as coisas acontecerem.
Espero a luz de seus olhos verdes
O som de sua voz com sotaque único
O calor de seu corpo...
Vou esperar as coisas acontecerem.
Espero a luz de seus olhos verdes
O som de sua voz com sotaque único
O calor de seu corpo...
Só
me resta isso: esperar...
ÁGUA
E VINHO
Dois
copos
Iguais
E
tão diferentes...
Água
Em
um deles,
Incolor,
Saborosa,
Vital...
Vinho
Em
outro
Vermelho,
Místico,
Embriagante...
Água
e vinho
Juntos
Não
tem sentido
Sem
lógica
Sem
sabor...
Não
consigo ser
Nem
água
Nem
vinho...
Sou
apenas um suco
De
uva, talvez,
Sem
cor,
Sem
sabor...
Desculpa
não te embriagar
Não
deixá-la atordoada
Como
deveria ser...
Mas,
existem portas sem trincos,
Que
você pode abrir
Mas
não estarei do outro lado...
Quando
tiver coragem
Beba
água
E
abra uma...
Quem
sabe,
Estará
aí
A
realização...
Beba
vinho
E
abra outra...
Místico
Sem
máscaras
E
corajoso...
É
esse?
Eu
não estou atrás das portas
Porque
já abri a minha
E
você conheceu meu suco...
Doce,
Saudável
e embriagante...
Tenho
um pouco de álcool
Mas
sou saudável,
Deixo
tonta
Mas
não sou vital...
Desculpa,
Mas,
esse sou eu...
Nem
água,
Nem
vinho,
Apenas
um copo de suco...
PALHAÇO
Meu
rosto está manchado
As
lágrimas sujam minha maquiagem
E
me traz à realidade
De
um mundo cruel
Sem
sentimentos...
Faço
rir
Dão
gargalhadas por minha causa
Mas
não sabem da minha dor...
Consigo
fazer rir mesmo estando triste
Sou
um artista
Nada
mais que isso
Um
artista que finge
E
disfarço meus sentimentos
Mostro
só o que querem ver...
Sou
assim
Vivo
assim
Dia
a dia...
Sou
um palhaço
Faço
a platéia sorrir
Na
qual você se encontra,
E
choro sozinho
Na
solidão do meu quarto...
NAQUELE
BAR
Estou
sentado
No
mesmo bar
Que
tantas vezes
Nos
encontramos...
O
uísque no copo,
Com
gelo,
Que
giro,
Com
o dedo...
O
pensamento está longe
Nos
seus olhos
Nos
seus cabelos molhados
Saindo
do banho...
Que
saudades,
Mas,
tudo acabou...
E,
neste bar,
Escuro,
Tudo
é triste...
Neste
bar,
Quase
vazio,
Bebo
meu uísque,
Cabeça
baixa,
Olhos
tristes
Fixos
no copo de uísque...
Mais
um gole,
Mas,
Desta
vez,
Tem
gosto de veneno...
Melhor
se fosse
Sofreria
menos...
DEIXA
EM PAZ
Quer
saber?
Pára
de me encher o saco
Vai
cuidar da sua vida
Me
deixa em paz...
Você
leva em conta o que digo?
Deixa
de ser idiota.
Eu
sou falso
Já
te falei
E
você cisma em não acreditar...
Você
ainda acredita em mim?
Quer
que eu seja exemplo?
De
quê?
Por
quê?
Eu
sou um idiota, lembra?
E
por que você vive falando de mim...?
Se
eu falo,
Você
se incomoda.
Se
eu calo,
Você
se estressa.
Ah,
quer saber?
Vai
catar lata ...
Tem
tanta gente melhor que eu
Espelhos
ótimos para você se refletir.
Aliás,
reflita mesmo,
Reflita
nas burrices que você anda fazendo
E
deixa o idiota aqui em paz...
E,
se não fui bem claro,
Vai
pra puta que pariu!
Entendeu
agora...?
Então,
me deixa em paz...
“Deixe
que digam, que pensem, que falem...”
CAIXA
VAZIA
Sou
uma caixa
Um
pacote
Um
embrulho...
Estou
em suas mãos
Pode
abrir
Mas,
cuidado com o que vai encontrar...
Puxe
a fita
Corte
o laço
Rasgue
os papéis
Me
desembrulhe...
Quem
sabe você encontre uma caneta
Que
escreva palavras de amor
E
emocionem os apaixonados...
Posso
conter uma roupa
Que
agasalhe um pobre coitado
E
dê esperança a alguém...
Posso
conter flores
Especiais
para você
É
seu aniversário...
Ou
posso ser uma caixa vazia
Não
conter nada
Inútil...
Ou
não...
Talvez
o melhor seja ser uma caixa vazia
Pois
você a preencherá como quiser:
Com
os seus melhores livros
Os
melhores cds
As
cartas românticas
Os
bibelôs mais secretos...
O
melhor da caixa vazia
É
que, nela, você coloca o que quer
Segundo
sua vontade...
Sou
uma caixa
Vazia
Em
suas mãos
Use
com sabedoria
E
consciência
E
me transforme
No
que você quiser...
Abra...
CORREDOR
DE HOSPITAL
Ela
entra no corredor
Mais
exames a fazer
Cabeça
baixa
Chateada
por acordar cedo
Mesmo
assim, anda,
Segue
entre pessoas estranhas...
Ele
entra no corredor
Do
outro lado
Trabalhando,
mais um dia,
Cabeça
erguida
Vê
a mulher, loira, alta,
Lá
no outro lado do corredor
Vindo...
Ela
vem
Começa
a erguer a cabeça
Vê
aquele senhor
Bem
vestido
Vindo...
Ele
vai
Começa
a abaixar a cabeça
Não
quer encará-la
Timidez...
Ela,
vinte e dois anos,
Ele,
quarenta e dois,
Ela,
solteira,
Ele,
casado há uma década...
Ela
anda
E
seu coração bate mais forte,
Ele
anda
E
seu coração bate mais forte...
Estão
pertos
Ele
levanta os olhos
Verdes...
Mais
pertos
Ela
o encara
Com
seus olhos azuis
E
os baixa...
Está
vermelha
Ele
percebe...
Câmera
lenta
O
tempo pára
Ele
sente seu cheiro
Ela
sente seu calor
Se
afastam para não esbarrar
Mas
se esbarram...
-
Desculpe-me...
Um
choque
Apenas
um choque
Que
percorre suas espinhas
Ao
mesmo tempo...
Ela
segue
Não
olha pra trás
Senta-se
Está
tremendo...
Ele
segue
Não
olha pra trás
Sai
porta afora
Não
volta...
Nunca
mais se viram
Nem
se esqueceram
Almas
gêmeas
Afastados
ao nascer...
Metades...
INCOERÊNCIAS
Não
sou nada,
Nem ninguém,
Nem gente,
Nem pessoa,
Nem Fernando...
Nem ninguém,
Nem gente,
Nem pessoa,
Nem Fernando...
A
minha luz não brilha
É escura
Não tem brilho
Nem clarice
Como Lispector...
É escura
Não tem brilho
Nem clarice
Como Lispector...
Não
sei brigar
Não apanho
Ninguém me espanca
Nem a Florbela...
Não apanho
Ninguém me espanca
Nem a Florbela...
Não
uso roupas
Não tenho estandarte
Não me deram flâmulas
Quanto mais bandeira
Como deram ao Manuel...
Não tenho estandarte
Não me deram flâmulas
Quanto mais bandeira
Como deram ao Manuel...
Não
sou ninguém...
Coloco
palavras
Em uma ordem incoerente
Desconexas
Essencialmente dispensáveis à cultura
Inapropriadas para qualquer evolução
Desaconselhadas para leigos e troianos...
Em uma ordem incoerente
Desconexas
Essencialmente dispensáveis à cultura
Inapropriadas para qualquer evolução
Desaconselhadas para leigos e troianos...
Palavras
de âmago vazio...
Agradecimentos:
A Drummond, Quintana, Cecília,
Neruda, Lorca,
Suassuna.
Todos os Andrades,
Todos os Araújos,
Todos os Vinícius,
Todos os Moraes...
A Drummond, Quintana, Cecília,
Neruda, Lorca,
Suassuna.
Todos os Andrades,
Todos os Araújos,
Todos os Vinícius,
Todos os Moraes...
Aos
mortos que me visitam
Aos vivos que não me conhecem
E aos zumbis e semimortos que são como eu...
Aos vivos que não me conhecem
E aos zumbis e semimortos que são como eu...
FANTASMA
O
rapaz passou
A
enfermeira olha pra ele
Ele
não se identifica, está sério...
Ela,
não consegue perguntar nada,
Nem
nome, nem o que ele pretende.
Invade
a recepção,
Sem
identificação,
Sem
palavras nem comentários...
Segue
o corredor, a enfermeira atrás,
Curiosa,
Onde
será que ele vai?
Ele
anda, ela segue...
Anda,
não olha pra trás,
Apenas
anda...
A
sirene da emergência toca
Ela
precisa voltar
Chega
alguém na ambulância...
Ela
tem dúvidas:
Deixar
ele seguir
Ou
chamá-lo e pedir explicações...?
A
ambulância encosta
Ela
precisa decidir...
Ela
decide e volta para a recepção,
O
rapaz segue seu caminho
Corredor
adentro...
A
ambulância encosta
O
motorista desce, rapidamente,
“Acidente”,
ele comenta,
“Óbito”,
se escuta quando abre a porta do carro,
“Mais
um”, ela pensa, enquanto puxa a maca...
O
susto, o arrepio:
Aquele
rosto, aquela camisa, aquela calça,
Já
eram conhecidos pra ela...
Há
alguns minutos
Aquele
mesmo rapaz havia chegado ao hospital
E
seguia pelo corredor
Em
direção ao necrotério: o espírito chegou antes...
CERTO
E ERRADO
Cansei
de tentar te entender.
Acho
que você está perdida
E
quer me levar junto...
Eu
vou
Fazer
o quê?
Não
tenho outra opção...
Quem
sabe amanhã
Tudo
muda
O
roteiro
As
palavras
As
aventuras...
Positivo,
negativo,
Brigas
e desavenças,
Reconciliações...
E
eu, ali,
Ao
seu lado
Saco
de pancadas.
Marionete...
Você
muda
Constantemente
Mas,
sempre,
Segundo
conceitos alheios...
Nunca
estou cem por cento
Nem
certo, nem errado...
Pois
aprendi
Que,
até um relógio quebrado
Está
certo
Pelo
menos
Duas
vezes por dia...
FRANCO-ATIRADOR
Subi
escadas
Tentando
atingir o mais alto nível geográfico
Dentro
do prédio virtual.
No
topo do prédio
Vi
pessoas passando, indo e vindo,
Todas
com fotos e perfis
Em
uma cidade chamada Orkut.
Alguns
batiam em minha porta
Às
quais, abria com prazer;
Outras
portas eu empurrava
Mostrando
o meu trabalho, como um vendedor,
Ambulante
virtual.
Alguns
me aceitaram,
Outros,
não, me rejeitavam na hora
E
até trancavam a porta.
Alguns
amigos, algumas amigas, tantas ilusões.
Pessoas
que acham que sabem;
Pessoas
que sabem que sabem;
Mas
tantas que nem sabem o que sabem...
E
eu lá na cobertura
Arma
na mão, fazendo mira e atirando.
Algumas
caíam, outras só balançavam,
Mas,
a todas eu acertava.
Algumas
entendiam, eu sou normal, sou poeta,
Outras,
não, achavam que eu era ator de cinema
E
que meus tiros eram de festim
E
que não machucariam...
Tantos
tiros, tantos corpos,
Até
que o tiro ricocheteou e me acertou
Bateu
no coração...
Estou
morrendo,
Quem
vai me enterrar? Onde é o cemitério?
Lixeira?
Pasta temporária?...
Onde
ficarei pro resto da minha vida virtual?
Quem
eu levarei comigo?
Pois
sou franco-atirador,
E
sempre levo alguém comigo
Sempre
levo alguém
No
coração...
ÓDIO
Quero
seu ódio
Inteiro
Por
completo...
Já
te falei
Você
só é verdadeira
Quando
odeia.
Quando
me odeia...
Suas
palavras
Verdadeiras
Fluem
pela língua
Às
vezes maldosa
Às
vezes provocante...
Palavras
Verdadeiras
e profundas
Que
resolvem e agravam problemas
Mas
que são problemas
Realmente...
Ódio
e amor
Diferentes
Pois
um é falso
E
o outro
Completamente
verdadeiro...
Sentimentos:
O
ódio é verdadeiro;
O
amor é mistura.
Não
confio nele...
SÓ
MAIS UM
Ando
devagar
Não tenho pressa
Não tenho pra onde ir
Não quero chegar a nenhum lugar...
Não tenho pressa
Não tenho pra onde ir
Não quero chegar a nenhum lugar...
Os
rostos que passam por mim
São diferentes
E tão iguais...
São diferentes
E tão iguais...
Que
Deus criativo...
Brancos,
pretos,
Altos, baixos,
Homens, mulheres...
Altos, baixos,
Homens, mulheres...
E
eu no meio...
Meu
rosto é mais um
Diferente e igual
Como todos os outros...
Diferente e igual
Como todos os outros...
Meus
pés andam devagar...
Sigo
numa calçada qualquer
Que vai para uma praça qualquer
Como tantas e tantas por aí...
Que vai para uma praça qualquer
Como tantas e tantas por aí...
Meus
olhos são cinza.
Minha pele?
Está sem cor...
Minha pele?
Está sem cor...
Meus
passos não têm direção...
Sou
mais um
Numa multidão indefinida...
Numa multidão indefinida...
Sou
único e exclusivo
Como milhões que estão por aí...
Como milhões que estão por aí...
AQUÁRIO
Dou
dez passos na direção errada
E
bato a cabeça...
Mudo
a direção,
Sem
noção para onde estou indo
E
outra cabeçada é inevitável...
São
tantas as idas e vindas
Tudo
limitado
A
um quadrado imaginário
Que
liga a casa ao trabalho...
De
um lado e de outro
Paredes
invisíveis
Como
vidro
Me
protegem
E
me prendem...
Não
quero mais ser peixe
Dentro
deste aquário,
Quero
o mar,
Quero
perseguir e ser perseguido
Quero
desvendar novos corais,
Quero
nadar sozinho,
Fazer
eu mesmo o meu caminho...
Não
consigo mais
Viver
preso
Dentro
deste aquário...
E
como uma possibilidade
Já
vejo pequenos arranhões
Que
com certeza
Se
transformarão em rachaduras...
E
eu sempre disse isso:
Ou
minhas cabeçadas quebram o vidro,
Ou
quebram a minha cabeça...
Estou
quebrando os vidros...
NINGUÉM
EM CASA
Enfio
a chave na fechadura
Viro
duas vezes
A
porta se abre.
Um
cheiro suave
Hoje
a faxineira veio...
Entro
Está
tudo arrumado,
Minhas
coisas limpas
Ordenadas
Como
eu sempre gostei
E
pago para ter...
Na
cozinha
Aquele
cheiro de comida do passado
Não
existe mais
Apenas
um prato arrumado na mesa
Um
copo.
Para
uma pessoa apenas
Para
mim...
A
cama de casal
Só
tem um travesseiro
E,
de tão pequena que era,
Agora
está enorme...
Gostaria
que você estivesse aqui
Para
dividir comigo
Minutos,
horas,
Sentimentos...
Como
eu gostaria de ter você ao meu lado
Outra
vez...
Gostaria
de ter participado na sua decisão
Quando
resolveu partir
Sem
ao menos me avisar
Sem
me preparar
Para
sua morte...
Nunca
mais será como antes
Vou
esperar uma nova vida
Para
estar novamente ao seu lado...
NADA
A PERDER
Estou
andando
Meu
carro é novo
Estou
bem agasalhado
E
o dinheiro no bolso
Não
me dá medo de avançar...
A
pedra na estrada
Me
faz parar
E
eu perco meu carro
Para
bandidos
Que
prepararam a armadilha...
Mesmo
assim
Continuo
andando
E
começo a sentir o vento
Batendo
no rosto
O
que não acontecia
Quando
estava no carro...
Não
tenho medo
Apesar
de perder o carro
Pois
estou bem agasalhado
E
com dinheiro no bolso...
No
início, sem o carro, foi difícil,
Mas,
mais difícil ainda,
Foi
quando percebi
Que
o dinheiro acabou...
Não
devia ter comprado
Tanta
coisa inútil
E
me divertido tanto
De
uma forma tão fútil...
Mas,
continuo andando,
E,
mesmo sem dinheiro,
Me
resta um pouco de confiança
Pois
estou bem agasalhado...
Mas,
na esquina,
O
homem sem roupa
Me
dói o coração
E
dou meu agasalho...
Um
misto de medo e prazer
Em
perder a segurança
Mas
senti amor
Em
ajudar ao homem...
Continuo
andando,
Desta
vez, nu, sem roupas,
Sem
dinheiro e sem carro...
Sinto
frio, sinto calor,
Me
corto, me machuco,
Mas
só então sinto a força de Deus,
A
natureza me tocando
E
não tenho mais medo...
Eu
não tenho mais nada a perder...
Posso
ter mais do que tinha
Pois
não tenho mais medo de arriscar,
Agora
só confio em mim...
Percebi
que só tive coragem,
Que
só acreditei em mim,
Quando
não tinha mais nada
A
perder...
TALVEZ
Talvez
eu veja seus olhos,
Verdes
Combinando
com o mar,
Ou
azuis
Reluzindo
a cor do céu,
Ou
amarelos
Como
o Sol...
Talvez
eu acaricie seus cabelos
Compridos
ou curtos
Loiros
ou pretos
Lisos
Ou
encaracolados...
Talvez
eu sinta seus lábios
Num
beijo
Ou
na ponta de meus dedos
Tocando
Sentindo
sua língua
Sugando,
falando, gemendo...
Talvez
eu te veja
Talvez
eu te ame
Talvez
eu viva com você...
Ou
não...
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