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Poesia 2146 – Terminal de ônibus


To esperando o ônibus.
Sentei no Terminal,
Estou esperando o ônibus.
Não sei para onde quero ir
Sei onde estou
Não sei para onde vou...

Mas isto não quer dizer que eu esteja perdido...

Para onde vão todos estes que estão aqui comigo?
Estão perdidos também?

Tem brancos, negros.
Tem quase coloridos.
Ninguém sorri.
Será proibido sorrir nos pontos de ônibus?
Não vou sorrir também...

Fazem barulho.
Os carros principalmente.
Eu ouço Zé Geraldo no fone de ouvido...

Não tenho fome.
Tenho sede.
Quero beber.
Quero cerveja.
Quero beber muito.
Até apagar...

Apagar o consciente
A memória
Principalmente a memória.
O que sei?
Não quero saber o que sei...

Quero beber.
Mas não tenho dinheiro.
Tenho pouco dinheiro
Dezessete reais
É o que restou de meu salário...

Pelo menos não tenho dívidas
Paguei todas
Mas não sobrou salário...

Sobrou mês...

Dezessete reais.
Vou beber duas cervejas
E sobrar-me-á uns dez reais.
Dá pra chegar até o próximo salário?
Veremos...

Os ônibus têm fome.
Comem gentes.
Vomitam menos do que engolem...

As gentes se foram.
Virão outras.
É horário de pico
É hora do rush
É tempo do trabalhador ir para casa descansar...

Eu não queria falar: estou sozinho.
Juro que não queria falar,
Mas você insiste em ouvir.
Mas estou bem sozinho.
Hoje estou bem...

Na verdade nem estou sozinho
Tem gentes ao meu lado
Chegaram mais...

Eu disse que chegariam...

Alguns ônibus são mais gulosos.
O 106 comeu tanto que cai gente pela boca.
Seus olhos estão acesos.
Olhos de farol.
Farol que não é de praia...

As gentes se foram.
Os ônibus continuam gulosos.
124, 15, 3.
Os ônibus não têm nomes
Tem números...

Eu gostaria de ter número...

203.
Que tal?
Ou 404...

404 é legal.
96 também é.
43 é mais ou menos.
7 é muito pouco...

Eu poderia me chamar 371
Mas minha casa já é 371...

Por que o asfalto é preto?
Algumas pessoas também são.
Muitos olhos são pretos.
Todas as graúnas são negras...

Estou cansado.
De viver, principalmente.
Quero morrer.
Não de corpo.
De gente.
Ou sumir...

Se eu sumir ninguém vai notar...

Ninguém.
Nem filhos, nem pais.
Nem ninguém.
Ninguém.
Eu sou ninguém.
E eu não sentiria a minha falta.
Juro que não...

Mas eu não morro.
Nem sumo.
Então vou embora
Que fiquem os ônibus gulosos
As gentes tristes
Os carros barulhentos.
Eu vou para o bar
Vou beber duas cervejas
É o que posso...

Pela grana
Pela sede não
Pela sede eu beberia o bar...

Todo o bar...
(Autor: Jorge Leite de Siqueira)

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